Rio – A candidata derrotada do Partido Verde (PV) à presidência, Marina Silva, roubou a cena dos candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT), que conquistaram vaga para o segundo turno das eleições, nas reportagens publicadas nesta terça-feira na imprensa internacional.
Com quase 20 milhões de votos (19,33% do total) obtidos, a candidata é tratada nas reportagens e editoriais por expressões como “grande vencedora” da disputa, “fiel da balança” no segundo turno, detentora da “chave das eleições” brasileiras e de um capital político que “vale ouro”. As informações são da rede BBC.Outros artigos interpretaram a votação maciça em Marina Silva como sinal de que a sociedade brasileira se recusou a “passar um cheque em branco” para a candidata do PT, Dilma Rousseff, apesar do alto nível de popularidade de seu mentor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como resumiu o diário espanhol El Mundo, “tanto Dilma como (o candidato do PSDB, José) Serra eram personagens secundários” no dia seguinte às eleições, embora ambos tenham obtido, juntos, 80% dos votos.
“A única triunfadora foi Marina Silva, a ex-ministra rebelde e defensora do movimento ecologista, que protagonizou uma incrível subida na reta final da campanha”, escreveu o jornal.
No artigo, denominado “Marina Silva, chave da herança de Lula”, o repórter do diário espanhol diz que “o cofre que guarda a herança de Luiz Inácio da Silva permanecerá fechado por outras quatro semanas”.”Só Marina tem as chaves do cofre. Ela será o árbitro da segunda rodada.”
Injeção de vida
Seguindo raciocínio semelhante, o também espanhol El País diz, em editorial, que “os ecologistas se converteram na formidável surpresa das eleições” brasileiras. “O único claro é que tanto Dilma Rousseff quanto José Serra terão que negociar o programa ambientalista e a política de desenvolvimento sustentável da Amazônia defendida por Marina Silva”, diz o jornal.
Na Grã-Bretanha, a votação da candidata do PV despertou entusiasmo. O The Guardian afirmou que Marina Silva se tornou “figura central” na disputa.
O austero diário financeiro Financial Times disse que a ex-ministra do Meio Ambiente foi “a única candidata que injetou vida” na disputa entre a “dama-de-ferro” (Dilma) e o “coveiro” (Serra).
“É uma reversão total do que parecia uma conclusão feita: que o país está crescendo economicamente, que os mercados estão escalando as alturas, e que a incessante campanha de Lula ao lado de Rousseff inevitavelmente lhe daria a vitória em uma bandeja.”
Já o Independent publicou um editorial qualificando o desempenho de Marina Silva de “extremamente promissor”. “O futuro econômico do Brasil não pode ser comprado à custa do meio ambiente”, defendeu o jornal. “Mais que nunca o mundo precisa de um Brasil verde”.
Vitalidade democrática
Na França, o Le Monde avaliou que, embora tenha sido eliminada da disputa presidencial, Marina Silva sai como “a grande vencedora das eleições”. O jornal relata a ascensão de Marina em meio a uma campanha marcada pela falta de debate político – fator por trás do alto grau de abstenção, nulos e brancos em comparação com eleições anteriores, na visão do diário francês.
Tanto o Monde quanto o El País viram na realização do segundo turno um sinal da “vitalidade” da democracia brasileira, onde os eleitores se “recusaram a passar um cheque em branco” a qualquer um dos dois principais candidatos da disputa.
A versão europeia do Wall Street Journal avaliou que, apesar da vantagem clara de Dilma, a segunda rodada pode ser “uma eleição completamente nova” levando em conta a influência de Marina Silva, as eleições de governadores da oposição nos Estados e o tempo igual de televisão no horário político para as duas campanhas.
Registrando, como o resto da imprensa, o “tsunami verde” representado pela votação de Marina Silva, o francês Le Figaro foi o único a notar a “situação complicada” em que a candidata verde agora se encontra. “A maioria dos dirigentes do Partido Verde apoiaria José Serra, em nome das alianças regionais costuradas entre os dois partidos. Mas um tal gesto de Marina Silva seria julgado como uma traição à esquerda.”